terça-feira, 6 de novembro de 2012

Falando de mim, interessa?


Parte 01: O começo!!!!

     Abaixo me apresento, não para demonstrar o que sei, mas apenas para dizer quem sou.

     Meu nome é Gilberto Fernandes da Silva, sou Psicólogo Clínico, Gestalt Terapeuta, Policial Civil do Rio de Janeiro, Pós-graduado, pela PUC/Rio em “Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Doméstica”.
     Possuo larga experiência em entrevistar crianças e adolescentes suspeitos de serem vítimas de abuso sexual e maus tratos, realizo palestras e ministro mini cursos sobre o tema. Também sou ajustador mecânico, mandrilhador e torneiro mecânico. Fiz um pouco de artesanato e até já vendi sanduíche natural.
     Bem, essa é minha apresentação formal, creio que seria mais adequado a proposta do blog, começar contando um pouco de minha história e como a psicologiae profissão de policial se cruzaram em minha vida.

     Vamos lá, no final da década de 80, estava eu desempregado, vivendo de biscates e cursando "a duras penas" a faculdade de psicologia do Instituto de Psicologia da UFRJ, quando encontrei por acaso, um velho amigo, que me perguntou se eu iria fazer prova para Detetive da Polícia Civil. De pronto disse que não tinha nenhuma vontade em ser policial. Entretanto ele usou um argumento forte. O salário era muito bom, cerca de 10 salários mínimos na época. Bem, para quem estava desempregado que nem eu era ótimo. A escala era 24 por 72 e dependendo de onde fosse lotado era possível ir à faculdade durante o plantão. Na época minha dificuldade em conseguir emprego na área que tinha experiência, era justamente essa. Cursava a faculdade em período diurno e como metalúrgico era difícil conseguir emprego no horário noturno.

     Bem diante de minha realidade financeira “falencial”, concordei em fazer a prova. Passei,em todas as etapas. E no final de 1989, tomei posse como Detetive de Polícia civil, aqui no Rio de Janeiro.
 Fim da parte 01.  ***Pausa para tomar uma água ou um café.

Parte 02: A continuação!!!

     Nos primeiros meses do ano de 1990, procurava estágio, já visando à formatura. Uma amiga me avisou que a Organização Não Governamental ABRAPIA, estava aceitando estagiário, e o melhor remunerando. Realizei minha inscrição e fui aceito.
Foto: Internet     Essa ONG atuava em casos de violência doméstica e maus tratos, inclusive abuso sexual. Depois de mais de um ano estagiando deixei a ONG. Aprendi muito lá, trabalhei com ótimos profissionais.  Em 1994 conclui minha graduação e de certa forma abandonei a psicologia e fui me dedicar ao trabalho policial.

     Em 1996 ajudei a estruturar o projeto, hoje conhecido na Polícia Civil do RJ como, Delegacia Legal. Em 2000, já lotado na Corregedoria de Polícia Civil, ajudei na implantação do setor de análise daquele órgão correcional.

      Creio que nesse momento as interseções entre polícia e psicologia começaram a se desenhar e manifestar sua força. Em fevereiro de 2000, fui lotado compulsoriamente, na DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente), onde trabalharia no Núcleo de Defesa da Criança e Adolescente- NDCA.
      A princípio relutei, reclamei e me movimentei junto aos contatos que tinha para que retornasse a minha lotação antiga. Diante de mim o chefe de polícia disse, ao corregedor dá época, que eu não voltaria a ser lotado na Corregedoria. Nesse momento, eu já estava matriculado e cursando a capacitação, obrigatória para ser lotado no NDCA. Eu era um dos alunos mais revoltados e descontentes durante a capacitação até aquele momento.
      Entretanto diante da realidade nua e crua, relaxei e passei a cooperar com as atividades do curso de capacitação.  Cabe frisar que todos os policiais e técnicos que comporiam o NDCA, foram voluntários, menos eu.

      Minha cooperação foi tanta que depois de iniciada as atividades do setor, me escolheram para ser o coordenador do NDCA. Assim foi e por cerca de 12 meses na coordenação do Núcleo. Nesse período por insistência de algumas das psicólogas do setor, dei entrada no meu CRP.
     Eu deixei a psicologia de lado ao ponto que depois de 06 anos de formado nem CRP eu tinha.  Naquela época o setor foi criado por conta da atuação do Juiz da Vara de Infância e Juventude Exmo Dr. Ciro Darlan. O setor era formado por policiais civis, com formação em psicologia ou pedagogia e por psicólogos e assistentes sociais. Sua criação foi motivada por conta de uma pesquisa realizada pela FGV, na qual apontava que num universo de 105 denuncias de abuso sexual, apenas uma foi a processo e mesmo assim o acusado foi absolvido. Essa era a realidade dos crimes sexuais envolvendo crianças e adolescentes, no final da década de 90.
Fim da parte 02.*** Nova pausa para um cafezinho e uma água.

Parte 03: O final (até que enfim)

    Depois da criação do NDCA e com a atuação de psicólogas e assistentes sociais nos casos registrados pelo setor, nos quais crianças eram vítimas. Essa realidade mudou, ao ponto de, num trabalho conjunto entre Conselho Tutelar da Zona Sul e NDCA, foi possível indiciar, processar e condenar um homem que havia estuprado as três filhas adolescentes. Destaco que o último estupro havia ocorrido há cerca de 03 anos antes da denuncia.

      Entretanto como tudo que é bom dura pouco, alguns meses depois que deixei a Coordenação do Núcleo, a DPCA passou a fazer parte do projeto Delegacia Legal,  como o NDCA, não podia ser absorvido pelo sistema Delegacia Legal, o mesmo foi instinto.

     Nesse momento, os psicólogos e assistentes sociais retornaram aos seus órgãos de origem ou foram remanejados. Dos 05 policiais apenas eu e mais um ficamos na DPCA.

      Diante dessa realidade e já consciente da imprescindível atuação do psicólogo, nos casos de abuso sexual ainda na fase de inquérito policial, propus a delegada titular da DPCA, ha época, que autorizasse minha atuação e a do outro policial como psicólogo voluntário, nos casos em que crianças e adolescentes figurassem como vítimas. Assim foi feito, realizávamos nossas atividades policiais e nas horas de folga entrevistávamos as crianças e adolescentes vítimas de crimes sexuais e maus tratos. Tudo no 0800 ou seja, gratuitamente.

       Este trabalho deu tão certo que foi criada a DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), delegacia especializada, responsável por registrar a maioria dos crimes em que crianças e adolescentes figurem como vítimas.

 
Foto: Internet
 Durante, os quase 10 anos, em que atuei no Serviço Voluntário de Psicologia/DPCA e posteriormente DCAV, entrevistei algo em torno de 900 crianças e adolescentes. Neste período centenas de abusadores foram processados e condenados, com o auxilio dos relatórios produzidos pelo Serviço Voluntário de Psicologia/DCAV. Tal tempo de atuação me deu uma boa experiência sobre o tema: Abuso Sexual Infanto-juvenil e relações.

  Em meados de 2011, o Serviço Voluntário de Psicologia da DCAV, foi instinto, com isso o Estado do Rio de Janeiro retrocedeu a década de 90, no que se refere a responsabilização criminal dos abusadores sexuais. Hoje no Rio de Janeiro, não existe um órgão oficial que se responsabilize por entrevistar crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, com isso as chances do abusador ser condenado é quase zero, já que nesse tipo de crime, na maioria esmagadora dos casos, não há testemunhas, nem a presença de vestígios que possam ser identificado e estabelecido, pelos peritos legistas, uma relação de causalidade entre os mesmos e o suspeito.

Um comentário:

  1. Pois é a Vida cria caminhos para nós que nem sempre é o que "queremos" e nos surpreende.... Seu trabalho é muito importante para a sociedade e que bom q vc encara dessa forma. É um dia a dia muito duro e, infelizmente, real. Peço a Deus que te dê sabedoria, visão e força para desempenhá-lo como uma verdadeira missão, pois acho que não é um trabalho que se opte, mas que é escolhido. Saúde e sucesso com a vida e com o Blog para que sirva de ajuda para muitas vidas. Grande abraço

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